Um passeio pelas trilhas frias de "Back in Time", primeiro disco da The Secret Shelson's Band
Há quase dois anos — precisamente na noite de 23 de outubro de 2022, na 7ª edição do Post Punk Brasil — eu tive o privilégio de ver a The Secret Shelson’s Band pela primeira vez ao vivo (em outra formação). E foi uma grata surpresa. Mesmo já conhecendo um pouco de seu trabalho com os singles lançados até aquela época, ainda era novo para mim — e para muitos, sem dúvida. Os também conhecidos apenas por The Shelsons tinham somente 2 anos de estrada naquele momento, tendo sido formado em 2020, e mostravam, sem medo — contudo um pouco acanhados —, sua jovialidade e seu engatinhar.
Pois bem. Mantive-me atento ao seu trilhar, os anos se passaram e, notoriamente a banda foi dando sinais claros de amadurecimento, ela já não está engatinhando, mas sim dando passos largos em seu primeiro disco intitulado “Back in Time” (lançado em 21 de setembro de 2024).
Curiosa e felizmente, a banda que já era boa, mesmo tão jovem, mostrou-se ainda melhor neste trabalho. Com cuidado e atenção, deixei o disco rodar por duas vezes, e fui arrebatado por uma porção de sentimentos estranhos ao ouvi-lo; arremessou-me aos meus 16 anos de idade, quando as sensações eram sempre estranhas e apaixonantes, ainda que melancólicas. É difícil encaixar este álbum, como um todo, a um estilo, ou adjetiva-lo, considerando que ele possui muito de tanta coisa: synthpop e ousadia em “Back in time”, post-punk e acidez em “Lost in My Generation”, gothic rock e desolação em “The Meaning of Hell”, new wave e sutileza em “Tonight”, mas foi na primeira — “Whispers On The Bridge” — e, principalmente na última faixa — “You Spend Literally all Your Life Finding Guests For Your Funeral” — que meu coração ficou aprisionado. Com um título quilométrico à la Smiths, a faixa que fecha o Back in Time é curta e infinita, é grandiosa e linda, é triste, fria, mas acolhe, acalenta, é uma canção digna de fechamento de um disco.
Em outro momento, eu cheguei a comparar a Secret Shelson’s com bandas como Motorama — e o comparativo é sempre válido, pois nos norteia, nos dá uma dica sutil do que há ali. E eu sei que muita gente odeia comparações, as acham, em sua totalidade uma espécie de propaganda desnecessária, bem, eu as acho amplamente válidas — e ainda penso que eles seguem nesse caminho do Post-Punk Revival que o Motorama nos trouxe em Alps, lá, em janeiro de 2010. Mas em Back in Time, a Secret Shelson’s mostrou-se pronta para deixar de ser comparada a outras bandas, como forma de apresentação, para fazer parte desse grande balaio post-punk/dark/synth/waves. Esse álbum fala por si, tem uma linguagem própria, mostra as fontes donde os integrantes beberam e se insinua ao ouvinte atento.
Eu sei que pode parecer exagerado e até “heresia” de minha parte, mas devo dizer que em alguns momentos consegui me encontrar com Disintegration (The Cure) em Back in Time. Digo isso, pois quando ouvi pela primeira vez o oitavo álbum do Cure, recordo-me com facilidade que os sentimentos que me arrebataram foram, de algum modo, parecidos aos de hoje com o primeiro disco da Secret Shelson’s.
Em suma, é isso. Dez músicas que se abraçam a um só corpo, sendo apenas 6 “inéditas”, pois dessas dez músicas que compõem o álbum, “Sadness Song”, “Mayday, Monday!”, “Whispers On The Bridge” e “The Meaning of Hell” já haviam sido lançadas em dezembro de 2020 em sua demo. E aquela banda acanhada sobre o palco do Madame, de dois anos atrás, cresceu. Já alçou-se aos ares.
– 21 de setembro de 2024, diretamente da minha caverna,
ouvindo pela quarta ou quinta vez este lindo disco.
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